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segunda-feira, junho 21, 2004

Sozinho

Acordei assustado de novo. Não sei bem o porquê, mas sinto que algo acontece naquele breve momento entre o sono e o despertar, quando a lembrança de um sonho se esvai como os últimos grãos de areia numa ampulheta. Um pensamento perturbador, um impulso elétrico que percorre minha mente e desce pela minha espinha deixando um rastro de gelo. A respiração pára e todos os músculos do corpo se contraem, como se ouvisse um tiro me sendo disparado pelas costas. Então ele se vai, e tudo que fica é aquela sensação... Momentos depois e o dia começa, e tudo volta ao normal. Mas um eco sinistro permanece em minha cabeça, como uma pergunta importante que não entendo e não consigo responder.

Às vezes indago se realmente me conheço, e cada resposta me traz uma nova pergunta, numa fuga desesperada que oscila freneticamente entre dois valores absolutos e inatingíveis: sim e não. O mais perturbador é que buscamos as respostas das quais na verdade fugimos. Somos iguais a um rato de laboratório que sabe que tomará um choque se morder o queijo, mas ainda assim se aproxima dele tanto quanto pode, talvez tentando se convencer de que está fazendo algo em prol de sua sobrevivência, mesmo quando issso o levará à morte.

Talvez naquele momento antes de acordar eu conheça as respostas de todas as minhas perguntas. Mas nada resta uma vez que todas as perguntas foram respondidas, e o choque é simplesmente um mecanismo de defesa que me impede de lembrar daquilo que me destruirá. Mas ele não me impede de continuar perguntando, tal qual um rato idiota que não entende que o queijo vai matá-lo.

Me resta então fazer o que cada homem tem feito desde o princípio dos tempos. Se não posso encontrar a verdadeira resposta, invento uma que me satisfaça. O bastante pra que possa continuar vivendo, mesmo que saiba intimamente que todos nós vivemos em uma grande mentira, pois a única pessoa a quem não se pode enganar é você mesmo.

Por isso as perguntas não páram, e de tempos em tempos elas me lembram que minhas respostas são uma mera conveniência,uma agradável fraude. Uma após a outra, elas vêm como o vento noturno que desfaz todos os castelos de areia feitos pelas crianças no decorrer do dia, e assim tudo volta ao começo.
Então começo a acordar assustado.